A VULNERABILIDADE DOS ENLUTADOS
Há poucos dias eu conversava com uma amiga que perdeu o pai, o qual estava num momento de vida cheio de projetos, com boa saúde, mas de repente houve um mal-estar que evoluiu para o óbito. Ela comentava o quanto está sendo difícil lidar com a falta do pai, que estava aqui e de uma hora para outra se foi...Ela pontuou também o quanto foi penoso ter que enfrentar questões burocráticas e legais, como encaminhar a certidão de óbito, organizar os objetos pessoais, contatar os clientes do pai para avisar do falecimento e, enfim, fazer o inventário.
Pelo relato dela confirmei o que nós operadores do Direito enfrentamos com os nossos clientes, que precisam fazer o inventário de um familiar, olhar para a vida financeira do falecido, decidir sobre partilha de bens quando eles estão tão vulneráveis emocionalmente! Muitas vezes, ainda, com uma resistência enorme em aceitar a morte do familiar. Nós advogadas ficamos numa posição delicada diante da fragilidade do cliente e precisando que ele tome decisões sobre dinheiro, então nos indagamos: como podemos trabalhar melhor com o cliente que está nesta situação?
Nesse sentido, Parkes (1998) abordou pesquisas realizadas sobre as consequências do luto na saúde dos enlutados. Alguns grupos de viúvas ou viúvos vieram a falecer após alguns meses que perderam o seu parceiro. Houve algumas especulações, mas o que se confirmou foi que após a perda, o sobrevivente fez uso excessivo de álcool, de comida, enfim teve um prejuízo mais global no autocuidado que pode ter contribuído para a sua morte.
Assim, o luto é um processo adaptativo à perda (FRANCO, 2010) e, por razões históricas, pessoais do sujeito, contexto da morte, ausência de rede de apoio, entre outros fatores de risco, pode se tornar um luto complicado, que pode trazer consequências à saúde física e mental do enlutado (SOUZA; MOURA; PEDROSO, 2010).
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