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Adoção: A espera que desespera

No dia 25 de maio é comemorado o Dia da Adoção, criado em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção.




Segundo a legislação específica brasileira (Leis nºs 8.069/90, 12.010/09 e 13.257/16), entende-se por adoção a medida protetiva de colocação da criança e adolescente em família substituta que estabelece o parentesco civil entre adotante e adotado. Ou seja, a criança ou o adolescente precisa ser desligado legalmente da sua família de origem (biológica), por motivos diversos como maus tratos, negligência, violência entre outros, e, assim, estar disponível para ser inserido numa nova família considerada adotiva/substituta.


Existe, portanto, o processo de destituição do poder familiar que precisa ser anterior ao processo de adoção. Espera-se que neste momento, a criança ou adolescente tenha um acompanhamento terapêutico para elaborar o luto da família biológica e com isto estar disponível para formar novos laços familiares.


E os candidatos a adoção, como se preparam para a chegada do filho? Que motivações levam os candidatos a procurar a adoção?



UM CASO PRÁTICO


Para contextualizar e tentar responder a esta questão, que é muito complexa, cita-se um caso real com consentimento para publicação.


Karina e Júlio tinham o desejo de serem pais desde que iniciaram o namoro. Houveram tentativas de gravidez frustradas, o que os fez decidir pela adoção. Para ingressar com o pedido de habilitação para adoção, o casal se deparou, logo no início, com a necessidade de definir o perfil do filho desejado. O perfil escolhido terá reflexo direto no tempo de espera pela chegada do filho.


Quantas dúvidas e questionamentos: “Será que posso escolher? “Será que consigo dar conta de um filho de outra cor?” “A criança pode ter alguma doença?”


Conclusão: neste momento é imprescindível muita reflexão sobre os limites físicos, emocionais e financeiros de cada candidato. Não é a hora de ser politicamente correto, pois não se está fazendo algum gesto de caridade, mas realizando o desejo de ser pai e mãe que é algo para a vida toda.


Depois de muita reflexão, qual foi a escolha então? Uma criança de 0 a 3 anos, qualquer cor, sem doença grave incapacitante ou que a levasse a morte.


Karina e Júlio, depois desta etapa, passaram por entrevistas com psicóloga e assistente social. No final foram considerados habilitados. Somente, neste momento, que se ingressa na lista do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). O tempo que se ficará nesta fila vai depender do perfil já definido, que pode levar 01 a 10 anos, por exemplo.


No caso concreto, houve a espera de 01 ano e 06 meses, aproximadamente, para a chegada do filho. Durante este tempo quantas fantasias e angústias! É um tempo de dor, desespero, desalento e pouca previsibilidade do momento que tocará o telefone avisando que chegou a sua vez!


O contato foi feito e o casal foi chamado para uma reunião com a equipe técnica. Nesta ocasião, Karina e Júlio tomaram conhecimento de que havia uma criança para eles, dentro do perfil desejado. Ao decidirem pelo SIM - queriam adotar o Paulo, que estava com 02 anos e 05 meses, foi marcado o encontro. E que encontro!? Como é possível se preparar para encontrar o filho, que foi tão esperado! Como ser apresentado como pai e mãe para uma criança que ainda não se conhece, a não ser por fotos e relatórios? Foram inúmeras noites mal dormidas, refeições incompletas a espera deste encontro…


Enfim, no dia 29 de junho de 2012, no dia do aniversário da Karina, houve “o encontro” do filho com os seus pais e então se deu início a mais uma vida em família!



COMPREENDENDO O CASO PELO VIÉS DO DIREITO E DA PSICOLOGIA


Os candidatos que desejam a paternidade através da adoção precisam, em primeiro lugar, passar pelo processo de habilitação a adoção. Existem exceções mas não será o objeto deste pequeno texto. Pode-se resumir os passos em: 1) desejo adotar; 2) busca do foro; 3) ingressar com os documentos; 4) preencher o formulário do perfil desejado; 5) passar por entrevistas com psicóloga e assistente social; 6) laudos emitidos (favoráveis ou não) e curso; 7) laudo favorável, parecer do Ministério Público e sentença do Juiz que determinam a inclusão do(s) candidato(s) no Cadastro Nacional de Adoção (CNA); 8) chegada da criança ou adolescente.


Entre a inclusão no CNA e a chegada do filho pode transcorrer um tempo de 01 a 10 anos. E aí se questiona: como os candidatos podem “gestar” esta espera sem entrar num desespero?


O primeiro passo é reconhecer a presença de muita ansiedade, angústia, dúvida, fantasias… Isto pode ser bem acolhido através de um processo terapêutico como também pelo apoio de familiares e amigos que estão acompanhando de perto este processo, principalmente sem julgamentos.


É aconselhável, ainda, participar de grupos de apoio a adoção, que existem em várias cidades do Estado. Assistir aos depoimentos de famílias formadas por adoção pode auxiliar muito a desmistificar as fantasias e driblar a ansiedade.


A gestação do filho biológico tem um tempo definido de até 09 meses, enquanto que a gestação do filho adotivo pode levar muitos anos, o que pode elevar a expectativa sobre o filho desejado, elevar a exigência na execução do papel de pai e mãe, enfim muitas demandas a serem trabalhadas durante um longo período. Por isso, sentir-se acompanhado de pessoas queridas que já passaram por esta situação é uma ótima forma de lidar com o momento, como também estar assistido por um psicólogo.


Karina Azen - advogada das famílias e Patrícia Scheeren - psicóloga terapeuta de casal e famílias. Sócias da empresa DUO – Direito e Psicologia Estratégica na Família. Somosduo.com

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